terça-feira, 23 de outubro de 2007

Mestrado em Jornalismo: a ofensiva catarinense

Pessoal este texto foi publicado no boletim da FENAJ.
Opiniões?


Mestrado em Jornalismo: a ofensiva catarinense

* José Marques de Melo

Resgatar a identidade da área de Jornalismo no campo da Comunicação Social, como acontece nas universidades de todo o mundo, tem constituído uma espécie de obsessão para o Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. Por isso, aquela unidade de ensino e pesquisa vem se distinguindo no plano nacional, respaldada pela nossa corporação profissional.

Historicamente constituído como mosaico, formado pelas carreiras profissionais que gravitam em torno da indústria midiática, o campo da Comunicação sofreu enorme distorção, no Brasil, quando se desvinculou da tutela das Letras para se converter em satélite das Ciências Sociais.

Se ganhou densidade acadêmica, assimilando o habitus peculiar aos que produzem conhecimento teórico, a comunidade do Jornalismo perdeu em substância cognitiva, distanciando-se do empirismo típico da rotina das redações.

Esse reducionismo pedagógico tem se agravado pela composição recente do corpo docente dos cursos de graduação em Jornalismo. Pois ali a atividade noticiosa muitas vezes se converte em mero pretexto para o trabalho de pesquisa. Seus professores, muitas vezes jovens doutores ou mestres que nunca exercitaram a profissão, ignoram o contexto que lhes dá sentido. Por isso os alunos que diplomam sentem-se inabilitados para o exercício das tarefas demandadas pelo mercado, quando iniciantes na profissão.

Em função disso, a UFSC pretendeu ser coerente com a vocação histórica do seu curso de bacharelado, propondo à CAPES um curso de mestrado cuja área de concentração esteja nucleada pelo Jornalismo. Mesmo distanciando-se dos programas nacionais congêneres, cuja identidade acadêmica é nitidamente focada em processos comunicacionais amplos e genéricos, a iniciativa foi bem acolhida pelas instâncias competentes e o novo mestrado acaba de ser instalado.

Por que a ofensiva catarinense vem sendo rotulada como pioneira, como se fosse o primeiro curso do gênero no país?

O equívoco é conseqüência da silenciosa desativação do tradicional programa de pós-graduação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Desde os anos 70, ali foram mantidos cursos dotados de áreas de concentração em campos profissionais como Jornalismo, Cinema, Propaganda, Relações Públicas, Rádio-Televisão.

O caminho percorrido pela ECA-USP na pós-graduação remonta, aliás, à própria fundação da escola, quando foram instituídos cursos de doutorado em cada uma das áreas profissionais. A essa primeira geração de jornalistas-doutores, diplomados pela instituição, coube formar as várias gerações de Mestres e Doutores que, desde 1972, optaram pela área de concentração em Jornalismo. Desse contingente uspiano, fazem parte, aliás, alguns dos professores que lideram hoje o novo Mestrado em Jornalismo de Santa Catarina.

É tempo de recuperar o tempo perdido, fazendo a autocrítica dos equívocos cometidos por razões historicamente talvez justificáveis. Afinal de contas, o Jornalismo vem experimentando mutações substantivas, desafiando a inteligência e o bom senso daqueles que ensinam ou pesquisam esse fenômeno essencial para o fortalecimento da sociedade democrática.

A comemoração dos 40 anos de fundação do Departamento de Jornalismo da ECA, no próximo ano, oferece um bom pretexto para ações destinadas a restaurar a identidade profissional do Jornalismo na USP. Um bom começo pode ser a recriação do Mestrado e Doutorado específicos na área, como ocorre nas boas universidades dos Estados Unidos, Austrália, China ou Canadá.

*Jornalista, professor universitário, diretor da Cátedra UNESCO de Comunicação da Universidade Metodista de São Paulo e presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares de Comunicação

Um comentário:

Feminista é a mãe! disse...

Este é o texto da Revista Imprensa, que ele tinha em mãos e comentou durante o Simpósio.